28/09/2009

Balela

(17/XII/08)

Cadeira do cabelereiro. Lugar inóspito, cheio de pêlo alheio e ainda te colocam com uma capa que pinica em frente a um espelho. Ah! Espelho, este que, pensando melhor, se escapule de preconceitos.


Não há tortura chinesa maior do que passar longos minutos se olhando em um speculu. Observa-se primeiro, a sua vaidade. É um exercício engrandecedor, "vê como estais bela?".


Aí começam a te cortar, fio por fio. Cada ramo duramente vivido despencando e sofrendo a resistência do ar. Esta só não é pior que a resistência do tempo, que demora a desaparecer. Espairece-se tu! Oras bolas! Tolinha... não é porque você quer saber o fim das coisas mais cedo que Torriccelli terá que rebolar novamente em suas funções horárias.


Pois-portanto inicia-se então o período reflexivo (nada mais justo ao se tratar de espelhos), o que é comum nesse final de ano (todo site de texto que se orgulhe da sua clichêzada cria um post comentando a geral anual).


Dessa vez refleti sobre amor. Desde que me vejo por gente (se você enxerga futuro nessa frase, favor se retirar, afinal o que vem aí não far-se-á coerente dentro da sua bolha) percebi que sou uma amadora da arte do amar. Arte daquelas que manipulam massa, e por isso tão alvo de críticas vindas de todos os ósculos sociais. Porém nessa conturbada vida-vídeo-clipe não existe tanto espaço para amar, e eu era feliz acreditando que isso era balela. Tantos foram que me alegaram que balela era eu achar aquilo balela.


Assobiei, é o que os sábios fazem nos filmes, não é? E num final de tantos dias notei que o assobio era só um disfarce da incerteza. E é esse o fim da máscara: eu estava incerta. Tanto amei o amor que fui alvo de um grande platonismo, lúcido em seus video-clipes. Tanto orgulhosa fui que despontei outros horizontes video-clipeanos (que não davam certo com a minha ética da vovó), até certa instância arranjo o verdadeiro amor, o refinado dos refinados e o esperado: virei uma video-c(lipeana)ristiana. Outrora parece uma história de escrotisse, mas eu não sei mais o que fazer com a minha ética vovó, se eu lhe dou um tratamento video-clipe que nem todos os outros me deram ou se tento converter-me a(novamente)vó. Que tem de haver um período tão barroco quanto o final de ano? Mergulhado em seus paradoxais prazeres, e dizeres hipócritas? Já não sei dizer um teamo verdadeiro, esse é o fato. E que ninguém espere um cartão profeciando tais dizeres, que pois não sei se será eu. E o que mais escrupúlo é não ser eu.




Favor, recruto jovens a fim de resgatar a ética vovó do mundo.





"-Quer cortar quantos dedos?
-Moça, eu vim cortar meu cabelo."

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